Dor
Grande e maravilhosa lei de equilíbrio e de justiça esta pela qual a dor, quando cumpriu sua função de levar a alma até a superação da animalidade, afasta-se em silêncio!
O
mistério da redenção é um mistério de dor e de amor. A dor é o cansaço
da ascensão, que laboriosamente leva à felicidade, que assim deve ser
conquistada. Mas, se a dor faz a evolução, a evolução anula
progressivamente a dor. Então, a anulação da dor se processa através da
dor. Com seu exemplo, Cristo nos veio mostrar estes profundos aspectos
da Lei. A dor é uma característica de determinada fase de nossa
evolução, em que funciona necessariamente como agente de transformação;
desaparece quando preenchida a sua finalidade, apenas seja alcançado um
alto plano de vida. A dor é uma condição de vida inerente à matéria,
durante a fase humana. Na desmaterialização do ser essa condição
desaparece. A dor é uma dissonância que vem reabsorvida na harmonização;
é uma densidade que se vaporiza na espiritualização.
Cristo
veio ensinar o caminho da superação da dor, através da dor e da
espiritualização. Antes de Cristo a dor era feroz, terrível, sem
piedade. Cristo fez dela a via mestra da ascensão, da liberdade, da
redenção. Fez dela uma força amiga, indispensável para a conquista do
nosso bem e da nossa felicidade. A fera inimiga suavizou-se,
domesticou-se, é útil colaboradora: a coisa temida e maldita se faz
santa e amada e nós a apertamos ao coração como um salva-vidas. Cristo
derrubou e refez a concepção humana, fazendo do vencido um santo, um
herói, um vencedor. Cristo desceu e se fez presente e sensível no fundo
das almas que sofrem, irmanando-se com elas no Seu amor, tomando própria
a sua dor, a cada dia, justamente como o fez sobre a cruz.
É
lógico que a dor, sendo um instrumento de ascensão, se destaque do eu
quando a ascensão é terminada. É necessário, na ordem do universo, que a
dor caia quando for superada a função evolutiva de prova e de lição.
Quando tivermos compreendido tudo e com isso houvermos esgotado sua
função de escola e de expiação equilibradora na ordem dos impulsos
morais, ela cai, como as outras ilusões da vida. Então, não só não se
verificam mais - por haver sido alcançada a medida do débito - as
condições exteriores da dor , mas advém um fato novo:
mesmo que a dor permaneça como fato exterior, advém por evolução uma
tão profunda transformação de personalidade, que ela lhe escapa. A
evolução, levando-a a uma fase nova, deu-lhe um novo modo de ser
no qual a dor não repercute com as mesmas reações do nível humano; em
outros termos, a ascensão levou o espírito a tal grau de harmonização
(amor divino), que não existe mais dissonância que tenha força para a
penetrar e alterar. Então, mesmo que permaneçam idênticas as condições
ambientes, o choque daquela força não encontra mais impulsos antagônicos
nem reações contra as quais se assanhe por sua expansão — e desaparece
sem resistência. O instrumento receptivo mudou e bastou esta mudança de
natureza, para que se transformasse completamente a gama de suas
ressonâncias.
Do livro " Ascese Mística" parte II cap 11
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