Cristo nasceu?
Onde? Quando?
A salvação não está numa finalidade a que se
convencionou denominar céu ou paraíso: está, sim, na perpétua renovação da vida
para a frente e para o alto. Avançar, como disse São Paulo, de glória em
glória, tal é, em síntese, o trabalho e o plano da redenção. Jesus
é a força viva que, uma vez encarnada no homem, determina a sua
constante transformação.
"O Verbo se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e verdade, e vimos a sua glória como de unigênito do Pai. Mas a
todos os que o receberam, aos que creem em seu nome, deu ele o direito de se
tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus."
A prerrogativa de unigênito do Pai, Jesus a torna
extensiva a todos os que de boa vontade o receberem. E assim se opera o seu
natalício no coração do pecador.
O menino que Maria enfaixou, deitando-o, em
seguida, numa manjedoura, é a figura desse Jesus que é força, que é poder, que
é vida e verdade, atuando no interior do homem.
Invoquemos, em abono de nossa asserção, o testemunho de algumas personagens que figuram na
esfera cristã como astros de primeira grandeza.
Perguntemos a Paulo - onde e quando Jesus nasceu?
Ele nos dirá: Foi na estrada de Damasco, quando eu, então intolerante e
fanatizado por uma causa inglória, me vi envolvido na sua divina luz. Dali por
diante - "já não sou eu mais quem vive, mas o Cristo é que vive em
mim".
Indaguemos de Madalena, onde e quando nasceu
Jesus. Ela nos informará: Jesus nasceu em Betânia, certa vez em que sua voz,
ungida de pureza e santidade, despertou em mim a sensação de uma vida nova, com
a qual, até então, jamais sonhara.
Ouçamos o depoimento de Pedro, sobre a natividade
do Senhor, e ele assim se pronunciará:
Jesus nasceu no átrio do paço de Pilatos, no
momento em que o galo, cantando pela terceira vez, acordou minha consciência
para a verdadeira vida. Daí por diante, nunca mais vacilei diante dos
potentados do século, quando me era dado defender a Justiça e proclamar a
verdade,· pois a força e o poder do Cristo constituíram elementos integrantes
de meu próprio ser.
Chamemos à
baila João Evangelista e
peçamos nos diga o que sabe acerca do natal do Messias, e ele nos dirá: Jesus
nasceu no dia em que meu entendimento, iluminado pela sua divina graça, me fez
saber que Deus é amor.
Dirijamo-nos a Zaqueu, o publicano, e eis o seu testemunho:
Jesus nasceu em Jericó, numa esplêndida manhã de sol, quando eu, ansioso por conhecê-lo,
subi numa árvore, à beira do caminho por onde ele passava,
contentando-me com o ver de longe. Eis que ele, amorável e bom, acena-me, dizendo:
Zaqueu, desce, importa que me hospede contigo. Naquele dia entrou a
salvação no meu lar.
Interpelemos Tomé, o incrédulo: Quando e onde
nasceu o Mestre? Ele, por certo, retrucará: Jesus nasceu em Jerusalém, naquele
dia memorável e inesquecível em que me
foi dado testificar que a morte não tinha poder sobre o Filho de Deus. Só então
compreendi o sentido de suas palavras: "Eu sou o caminho, a verdade e a
vida."
Apelemos, finalmente, para Dimas, o bom ladrão: Onde
e quando Jesus nasceu? Ele nos informará: Jesus nasceu no topo do Calvário,
precisamente quando a cegueira e a maldade humanas supunham aniquilá-lo para
sempre; dali ele me dirigiu um olhar repassado de piedade e de ternura, que me fez
esquecer todas as misérias deste mundo e antegozar as delícias do Paraíso.
Desde logo, senti-o em mim e eu nele.
Tal foi o testemunho do passado - tal é o
testemunho do presente, dado por todos os corações que, deixando de ser quais
hospedarias de Belém, onde não havia lugar para o nascimento de Jesus, se
transformaram, pela humildade, naquela manjedoura, que o amor engenhoso da mais
pura e santa de todas as mães converteu no berço do Redentor do mundo.
Fonte: “Em torno do Mestre” - Pedro de
Camargo "Vinícius"